UM CONTO EM PEDAÇOS. = Um dia como tantos
Hoje acordei mais cedo. Olhei a
minha volta e vi as mesmas paredes, a mesma mobília. Saí á janela e até o ar
parecia parado.Meus dois cachorrinhos Speed e Bambino, estavam brigando, aliás,
brigaram a noite toda e acho isso muito estranho, porque eles brincam o tempo
todo.Vivem um para o outro .Num momento de impaciência, abri o portão e deixei
que um deles fosse para a rua. Logo me arrependi porque o que apanhava dele,
chorava tanto, que acho que ele preferia apanhar a ficar sozinho.Procurei
agrada-lo, ofereci os quitutes mais gostosos, aqueles que ele engolia inteiro
para não dividir com o outro,mas ele recusou. Na realidade, eu não sei bem o
que fazer com o Speed. Eu o criei desde bebê, passeava com ele só no
quarteirão, para que ele não aprendesse ir mais longe,caso fugisse mas com o
passar do tempo, ele não me deixava mais tirar-lhe a coleira quando voltava
para casa. Ameaçava me agredir e também posteriormente, quando ia colocar sua
coleira.
Foi ficando impossível sair com
ele. Até mesmo para ir ao veterinário.Para tomar banho...,
Não sei mais lidar com
ele.Enquanto o Bambino é dócil em tudo,
mas “sujinho faz” caca “ em qualquer
lugar, muito diferente um do outro “acho
que é por isso que se completam”.
Os gritos uivantes do Bambino foi
me angustiando. Eu também comecei a sentir uma saudade muito grande, um aperto
no peito, uma vontade de chorar, ainda mais porque estou medicando o Speed e
hoje de manhã ele estava com algo estranho na boca,parecia machucada, mas não
deixava eu olhar, então me sentia
covarde em despedi-lo, por incapacidade minha de fazer alguma coisa. Era fácil
me livrar dele. Difícil era viver na sua ausência. Eu, que já sinto a ausência de tantas
pessoas, tantos entes queridos que já não voltarão a viver. São tantas as
ausências e tantas as perdas, apesar das pessoas acharem que minha vida é uma
grande conquista.
Recorri a São Francisco de Assis,
protetor dos animaizinhos. Já fiz isso de outra vez e deu
certo. Realmente, é um grande
Santo. Ei-lo que late ao portão. Seja
bem vindo, Speed.
Não sei bem se era só a minha
lágrima que corria, pois vejo-a também nos olhos de Bambino. Agora é só
festa. Sinto-me feliz e mais leve .
No entanto, o que fazer com eles?
Já percebi que a separação me magoa demais. É preciso podar um pouco minhas
raízes. Quero ver o sol nascer de um outro horizonte. Quero me procurar, me
encontrar, quero poder sair das grades que protegem esta casa sombria, cheia de
recordações, de risos abafados pelo tempo, de alegrias embaladas em caixas de
ferramentas. De lembranças de um tempo que eu era feliz e não sabia. É preciso
que eu encontre a coragem de me ausentar de mim. Ainda que, abrindo mão desses
laços afetivos que ainda me restam: meus cachorrinhos e esta casa deserta. Resta também a
possibilidade de um dia poder voltar, e me esquecer para trás.
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